Queridx amigx leitor,

Esta é a nossa terceira edição do blog Com Meu Sotaque! Como comentei na edição de estréia (n.º Zero), nestes tempos difíceis que estamos vivendo em todo o planeta, senti a necessidade de voltar a usar ferramentas "antigas", como o e-mail e o blog tradicional, que me acompanharam ao longo de toda a minha trajetória como jornalista e escritor nestes últimos 20 anos, para estabelecer uma ponte com todos vocês, por meio de uma comunicação segura e não violenta.

Para continuar ampliando o alcance desta janela que estamos construindo, informo que o Blog Com Meu Sotaque, além das edições em espanhol (castellano) e português, será trilíngue — pois a partir desta edição, teremos também uma versão em inglês.

Estou muito feliz com isso! Sinto como se estivesse no meu primeiro semestre do curso de jornalismo, quando comecei a faculdade em 2001, com meu gravador Philips de minicassetes nas mãos, ao lado dos livros que precisávamos ler e de um bloco de notas com uma caneta Bic 4 cores.

E por fim, recomendo que não se esqueçam de silenciar as notificações do celular ou do computador, para que possam ter uma leitura tranquila e livre de interrupções.

Até logo!

Alan Leites 🌻🐾

Só o que couber no meu bolso e no meu coração* por Alan Leites

No nosso último encontro, depois de uma reflexão sobre “quem somos”, no sentido do lugar que ocupamos neste momento, deixei para vocês uma provocação com a pergunta: O que você quer com o que você quer?
Mas antes de tentar respondê-la, seria oportuno pensar em outra pergunta, muitas vezes cruel: Para onde você quer ir?

Se por um lado não saber o que fazer na vida por um período de tempo e lidar bem com isso pode parecer libertador (e, para este escritor, realmente é maravilhoso), por outro lado, logo em seguida, naturalmente nos vemos em uma estrada que nos leva a uma bifurcação. E às vezes há mais de uma opção de caminho a seguir.

Muitas vezes, as pausas ou períodos sabáticos que fazemos, por generosidade da vida ou não, costumam ser o tempo necessário (ou quase suficiente) para que possamos recuperar o fôlego, levantar a cabeça e olhar para o horizonte que temos à frente... e então, naturalmente, velhas companheiras da nossa jornada, como a pressão, a ansiedade, os prazos e muitas incertezas, voltam, sem serem convidadas, para sentar-se conosco na sala e tomar um chá. E nos servem uma “generosa” dose de seus conteúdos, quase sempre amargos, numa bela xícara.

E voltamos à pergunta que guia este encontro: Para onde ir?

Lembro mais uma vez do livro Alice no País das Maravilhas*, de Lewis Carroll, quando a jovem caminha pela floresta e, dessa vez, encontra um gato no alto de uma árvore. Indecisa, ela pergunta:

—Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para ir embora daqui?
—Depende bastante de para onde quer ir—respondeu o Gato.
—Não me importa muito para onde—disse Alice.
—Então não importa que caminho tome, disse o Gato.
—...contanto que eu chegue a algum lugar—Alice acrescentou à guisa de explicação.
—Oh, isso você certamente vai conseguir—afirmou o Gato—, desde que ande o bastante.
Este escritor afirma que lhe parece bastante evidente que mover-se em qualquer direção já muda o lugar onde se está, especialmente quando estamos paralisados ou sem saber para onde ir…, mas será que qualquer destino serve? Podemos ao menos fazer o exercício de perguntar a nós mesmos: existe algum lugar para o qual não queremos ir (ou voltar)?

Depois dos 40, ou dependendo das condições em que se vive, perguntas ou dilemas como esse costumam ter outro peso. O perigo de não saber qual caminho tomar é evidente e natural, mas quando se vive com a sensação de que já se cumpriu, digamos, a metade da jornada neste planeta, segundo a expectativa média de vida humana, tentar não errar se torna um exercício diário para não desperdiçar o tempo que ainda temos.

É como se uma pessoa apaixonada por café só pudesse tomar uma xícara por semana por recomendação médica... então, esse cafezinho precisa ser especial, pois provavelmente se tornará o momento mais importante e agradável da semana. E se não for (especial), já não valerá tanto a pena. Momentos em que se corre com um copo de papel cheio de café quente queimando as mãos, entre um gole e outro, enquanto se desce apressadamente a escada rolante do metrô ao som do sinal de partida para conseguir entrar no vagão antes que a porta se feche... já não valerá a pena.

É verdade também que, com o avanço da idade, a vida pode trazer um olhar mais simples sobre as coisas, e o que antes era tão importante pode deixar de ser, assim como algumas certezas que nos acompanhavam desde a juventude. Pode ser que o relógio marque um tempo diferente daquele de antes... e antigos hábitos voltem a ter prioridade na vida, como o costume de jantar em família e poder desfrutar da companhia dos que amamos (todos os seres, inclusive os animais), comentando como foi “o de hoje”, brindando com uma taça de vinho por outro dia superado, mesmo que seja o vinho de dez reais do mercado ou apenas um copo d’água.

É nesse momento que se percebe que já não faz tanto sentido carregar bagagens tão pesadas, e a necessidade de levar apenas o que é importante se transforma na chave de entrada para um novo ciclo. No fundo, é a compreensão de nada mais, nada menos que, a partir de agora, em todas as áreas da vida:
“Só o que couber no meu bolso e no meu coração”.

E isso se encaixa filosoficamente na escolha de Alice sobre qual caminho seguir: o da utopia ou o da consciência. Ou seja, ao escolher, assume-se que algo será perdido, que enfim não se pode ter tudo, mas já entendemos que algumas coisas simplesmente não cabem mais. Como, por exemplo, ter o celular cheio de mensagens e convites de "amigos", mas, na hora do desespero, não ter para quem ligar. Ou trabalhar tanto para manter coisas que, no fim, não conseguimos aproveitar, perdendo a oportunidade de viver a magia das coisas simples da vida, como um encontro com amigos numa tarde no Parque de las Siete Tetas, em Vallecas (Madri), para conversar, rir e apreciar o pôr do sol com uma bebida na mão.
Agora, livre das algemas invisíveis que o sistema nos impõe, podemos tentar escolher um caminho que minimamente nos traga prazer, que esteja conectado com nossas inquietações, que nos ofereça um verdadeiro desafio pessoal e que, acima de tudo, nos encha de orgulho ao apresentá-lo às pessoas, como se fosse (e de fato é) nossa própria obra-prima.

Diante de tantas oportunidades que se abrem à nossa frente como um leque, escolher uma direção a seguir se torna uma tarefa mais simples quando se trata de algo que faça sentido para nós. Mas então surge a pergunta que temos trabalhado desde a última edição:

— O que você quer com o que você quer? — perguntou Maria a Juan, enquanto tomavam um café, depois que ele comentou que gostaria de criar um canal no YouTube.
— Bem, eu quero falar da minha paixão por mangás — respondeu ele com os olhos brilhando.
— E o que você quer fazer com isso depois de conseguir?
— Bem… penso em organizar encontros presenciais para reunir pessoas como eu, para que possamos debater temas como as representações de personagens LGBTQIA+ nos mangás.
— E o que você quer com isso?
— Bem… tenho vontade de criar um festival onde autores e desenhistas independentes como eu podamos expor nossos trabalhos sobre esse gênero/perspectiva, dar visibilidade a esse movimento e, muito em breve, criar a primeira associação de produtores independentes de mangá LGBTQIA+. Com isso, quero contribuir para a luta contra a LGBTQIA+fobia.
— Que lindo projeto de vida o seu, Juan! — exclamou Maria, orgulhosa do amigo.


Este escritor se despede por aqui, até a próxima edição.

Cuidem-se muito e cuidem das pessoas ao seu redor.

Alan Leites 🌻🐾

*A frase tem sido atribuída à escritora Cora Coralina, porém, segundo publicações de portais literários, a frase não consta no acervo da autora, e é de autor desconhecido.

Se você gosta do meu trabalho e quer me apoiar para que eu continue criando, clique no botão e me compre um café! Obrigado pelo seu carinho e confiança. 😇  

Poema «Ode às Pessoas de Corações Valentes» de Alan Leites

"Ode às Pessoas de Corações Valentes" é um poema profundamente emotivo e cheio de inspiração. Eu o escrevi em um momento difícil da minha vida, quando sentia que todas as portas estavam fechadas e a esperança parecia distante. Este poema é um testemunho de que a força, a coragem e a fé podem superar qualquer obstáculo, e de como me ajudaram a seguir em frente sem perder os princípios nem a filosofia que me guiam.

Meu primeiro livro

Foto: Copyright Alan Leites © 2025 Todos los derechos reservados.
Fico muito feliz em compartilhar com você que meu livro "Raji – Minha família: uma história de imigração, resistência, coragem e amor" segue disponível (com poucas unidades) e pode ser adquirido na Amazon Espanha, na minha loja online, assim como em duas lojas físicas em Madri: Santa Y Pura e Dolce & Vegana.

Esse projeto foi muito especial para mim e, embora tenha sido um desafio escrever sobre temas tão importantes como o amor, o veganismo, a imigração, a comunidade LGBTQI+ e a família multiespécie em um idioma estrangeiro, estou muito empolgado por poder compartilhar essa história com todos vocês.
Obrigado por me acompanharem nessa caminhada!

Recomendações culturais

Vinil & CDs

  • Diamantes, Lágrimas y Rostros para Olvidar – BK 🇧🇷
Com seu sexto álbum, BK nos surpreende mais uma vez com uma proposta musical que reflete sua evolução artística e versatilidade. Em Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer, o rapper volta a explorar múltiplas sonoridades, relembrando a abordagem já apresentada em ICARUS, mas desta vez ampliando sua paleta com influências que vão do pop ao samba, entre outros gêneros, enriquecendo ainda mais sua proposta musical.
  • Raíces – Gloria Estefan 🇨🇺
Chega na próxima semana (29/05) às plataformas digitais e lojas físicas o novo álbum da cantora cubana Gloria Estefan. “Raíces” é seu primeiro álbum totalmente em espanhol em 18 anos. Nos dois primeiros singles lançados como prévia — “Raíces” (faixa que dá nome ao álbum) e “La Vecina (No Sé Na')” — Gloria anuncia um reencontro com suas raízes musicais, por meio de uma explosão de salsa, tropicalidade e instrumentos da música latina.
  • Manifiesto – María Terremoto 🇪🇸
"Manifiesto" é uma obra que captura a essência pura do flamenco, levando o ouvinte por um percurso emocional intenso e sincero. Desde a crueza de um romance até a alegria vibrante das bulerías, María Terremoto demonstra uma maturidade artística admirável. Suas letras, cheias de beleza e honestidade, refletem uma conexão profunda com seus sentimentos e raízes. A produção respira autenticidade, permitindo que cada nota e palavra transmitam sua verdade. No conjunto, é um álbum que confirma María como uma voz autêntica e poderosa na cena flamenca contemporânea.
  • Beethoven Blues – Jon Batiste 🇺🇸
Desde o primeiro acorde, "Beethoven Blues" de Jon Batiste nos convida a uma jornada musical repleta de imaginação e sensibilidade. O artista pega peças clássicas do lendário Beethoven e as reinterpreta com um estilo que combina o lúdico e o melancólico, alcançando uma fusão única e revigorante. O que realmente se destaca é como Batiste nos propõe uma visão criativa: se Ludwig van Beethoven tivesse nascido na nossa época, talvez tivesse explorado gêneros como o blues, o gospel e o jazz em sua música.

FILMES

  • O Último Pub (The Old Oak)
Ano: 2023
Duração: 113 min
País: Reino Unido
Direção: Ken Loach
Sinopse:
Ken Loach assina mais uma lição de humanidade com este olhar sobre um dos grandes desafios da política migratória europeia: a crise dos refugiados sírios. O filme narra o futuro do último pub que resta, The Old Oak, em uma vila no nordeste da Inglaterra, onde as pessoas estão deixando a região à medida que as minas são fechadas. As casas são baratas e estão disponíveis, tornando o local ideal para receber refugiados sírios.

Livros

  • Alice no País das Maravilhas – Lewis Carroll
Alice, uma menina curiosa, cai em uma toca e se encontra em um mundo mágico repleto de criaturas estranhas e personagens peculiares. A história, cheia de fantasia e jogos de lógica, encantou tanto crianças quanto adultos, tornando-se um clássico do gênero do absurdo e deixando uma marca profunda na cultura e na literatura.
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